O presidente francês, Emmanuel Macron, propôs nesta quinta-feira (18) que os países ricos transferissem de 3% a 5% das vacinas contra a Covid-19 que possuem em estoque à África. Os 54 países do continente totalizaram 100.000 óbitos de 3.341.197 casos declarados da infecção viral, segundo uma contagem divulgada hoje pela agência AFP, e continuam carentes de imunizantes.
Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, o presidente francês disse que submeterá a ideia à reunião de líderes do G7 prevista nesta sexta-feira (19). A chanceler alemã, Angela Merkel “concorda” com esta iniciativa, segundo Macron.
“Digo: vamos transferir 3% ou 5% das vacinas que temos hoje em estoque para a África. Isso não terá nenhum impacto no ritmo da estratégia de vacinação (nos países ricos). Não vai atrasar nenhum dia, considerando a utilização de nossas doses atualmente”, afirma o chefe de Estado.
“É do interesse dos franceses e europeus” porque “tenho mais de 10 milhões de nossos cidadãos que têm famílias do outro lado do Mediterrâneo”, sublinha Macron. “Se deixarmos se instalar a ideia de que centenas de milhões de vacinas estão sendo feitas nos países ricos e que não começamos (a distribuição) nos países pobres, é insustentável”, disse ele. “Seria uma aceleração sem precedentes das desigualdades globais” e “é politicamente insustentável a longo prazo, porque é o que permite instalar uma guerra de influência das vacinas. E dá para ver a estratégia chinesa, a estratégia russa também”.
É preciso, segundo ele, “pressionar muito” os grandes laboratórios farmacêuticos para aumentar a produção de vacinas.
“O objetivo é acolher um máximo de parceiros europeus e não europeus. Mas se nem todos estiverem a bordo, a França vai se envolver” e vai dar esses 5% das doses, especificou a Presidência francesa em um comunicado. Serão doações ou vendas a um custo baixo, de acordo com a nota.
“Esperamos muito que amanhã (no G7) os Estados Unidos demonstrem um compromisso maior, inclusive financeiro“ no dispositivo da Covax para distribuição de vacinas aos países pobres”, acrescenta o texto do Eliseu. Este mecanismo foi criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para ajudar os países que não têm recursos para adquirir os imunizantes.
Diplomacia das vacinas x multilateralismo
“O mecanismo de doação de doses está aberto aos russos e chineses. Os chineses muitas vezes se lembram de sua adesão ao multilateralismo, eles têm a oportunidade com a Covax de prová-lo, ao invés de uma abordagem bilateral com uma lógica de diplomacia de vacinas, ou mesmo de patrocínio”, assinala a Presidência francesa.
Macron participou nos últimos dias de várias reuniões sobre o tema da vacina, incluindo um encontro virtual ocorrido na quarta-feira (17) com líderes africanos. O francês defendeu uma aceleração da disponibilidade de vacinas nos países pobres. Macron também conversou nesta quinta-feira com o presidente da Indonésia, Joko Widodo. Os dois dirigentes compartilharam “o objetivo de tornar a vacina um bem público global”, de acordo com a nota do Palácio do Eliseu.