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Graças ao apoio de 340 mil doadores de 150 países, que conseguiram arrecadar 846 milhões de euros, a Catedral de Notre Dame reabrirá suas portas no coração de Paris neste sábado (7), com uma cerimônia interna, após o incêndio devastador de 2019 que destruiu completamente seu teto e a agulha da torre principal.
Devido ao anúncio de condições climáticas adversas, as atividades, que estavam inicialmente divididas em duas — uma na explanada, mais política, presidida pelo presidente francês Emmanuel Macron, e outra dentro do templo, puramente religiosa, com o arcebispo de Paris, Laurent Ulrich — ocorrerão integralmente no interior da catedral, a partir das 17 horas (horário de Paris, 4 horas a mais que Buenos Aires), conforme comunicado de ambas as instituições. O discurso ao ar livre do presidente francês tinha o intuito de ressaltar o caráter laico da república. Suas palavras destacarão a reabertura da histórica catedral como um momento de orgulho nacional e de unidade. Também está previsto o desenvolvimento de um ritual, com o arcebispo Ulrich batendo com seu báculo na porta fechada da catedral, pronunciando um salmo três vezes antes de atravessar o limiar.
Espera-se a presença da primeira-dama dos Estados Unidos, Jill Biden, do presidente eleito Donald Trump, dos reis belgas Felipe e Matilde, do presidente alemão Frank-Walter Steinmeier, do presidente ucraniano Volodímir Zelenski e do chefe de Estado paraguaio Santiago Peña, entre outros líderes mundiais e membros da realeza que confirmaram sua presença. O Papa Francisco não comparecerá, mas o arcebispo Ulrich lerá sua mensagem.
As celebrações deste sábado estavam programadas para serem realizadas com concertos, mas não se sabe se serão totalmente transferidos para o interior da catedral. Entre os artistas, estão o maestro da Ópera de Paris, o venezuelano Gustavo Dudamel; o pianista chinês Lang Lang; o músico pop Pharrell Williams; e corre o rumor de que o ex-Beatle Paul McCartney também estará presente.
No domingo, 8 de dezembro de 2024, Dia de Nossa Senhora, será celebrada a primeira missa na catedral restaurada, marcada pela consagração do altar-mor. Presidida pelo arcebispo Ulrich, a homilia reunirá cerca de 170 bispos de todo o mundo, sacerdotes de Paris, chefes de Estado e fiéis.
Os trabalhos de restauração
“A restauração foi possível graças a um espírito de generosidade sem precedentes”, comunicou a Embaixada da França na Argentina. Após quase cinco anos de trabalho árduo, realizado por cerca de 2.000 trabalhadores — entre pedreiros, arquitetos, carpinteiros, artesãos e dezenas de outros profissionais —, esta obra-prima do arte gótico voltará a ocupar o centro das atenções da Cidade Luz, como sempre fez. Antes do incêndio, a catedral recebia cerca de 12 milhões de visitantes por ano. Ao longo deste sábado, sua reabertura permitirá que os visitantes aproveitem sua impressionante beleza, com mais de 800 anos de história, sendo cenário de grandes acontecimentos históricos, como a coroação de Napoleão Bonaparte e a beatificação de Joana d’Arc. A catedral foi declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1991.
“A emoção da reabertura será, acredito, tão forte quanto a do incêndio, mas será uma emoção de esperança”, afirmou o presidente francês, Emmanuel Macron, em seu discurso durante a última visita às obras de reconstrução, acompanhado por sua esposa Brigitte, pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo, pelo arcebispo de Paris, Laurent Ulrich, e outras autoridades.
Segundo informou a agência Reuters, Macron usou a palavra “sublime” ao entrar na catedral reconstruída, enquanto a ministra da Cultura, Rachida Dati, ficou impressionada com a nova luminosidade de Notre Dame. Este trabalho de reconstrução, que será concluído em 2030, devolveu a luz aos seus muros e aos seus vitrais coloridos, que tiveram o pó removido. O teto foi reconstruído com 1.200 carvalhos, como originalmente conhecido como “A Floresta”, e a agulha de Eugène Viollet-le-Duc também foi recolocada no seu devido lugar. Na ocasião, Macron agradeceu aos 2.000 trabalhadores que participaram da restauração: “Transformaram carvão em arte”, disse o presidente francês.
“A restauração de Notre Dame também foi uma forma de mostrar o bom fazer francês e realizar uma verdadeira proeza: rehabilitá-la em menos de cinco anos. Centenas de artesãos especializados, entre escultores, telhadores, engenheiros e construtores de órgãos, trabalharam incansavelmente para restaurar este edifício gótico do século XII. Uma tarefa colossal que demonstra a excelência dos ofícios artesanais na França”, afirmou a Embaixada da França na Argentina em seu comunicado.
Um dano colosal
Na tarde de segunda-feira, 15 de abril de 2019, o presidente francês Emmanuel Macron publicou um comunicado no Twitter, enquanto imagens do mundo inteiro circulavam mostrando a Catedral de Notre Dame em chamas: “Como todos os nossos compatriotas, hoje à tarde me entristece ver arder essa parte de nós”. O monumento estava, como de costume, repleto de turistas, que foram evacuados enquanto registravam muitas das imagens que viralizaram nas redes sociais, a partir da ilha de la Cité, onde a catedral está localizada, cercada pelas águas do rio Sena.
As imagens tiradas de diferentes perspectivas eram impressionantes. O fogo foi declarado às 18h, e segundo os primeiros relatórios dos bombeiros, estava possivelmente relacionado às obras de renovação do edifício. A Prefeitura de Paris informou que a área estava sendo evacuada e a catedral foi cercada. Mais tarde, soube-se que havia 2.000 pessoas dentro da catedral quando o incêndio começou. Felizmente, graças ao trabalho dos bombeiros e das autoridades, não houve vítimas fatais ou feridos.
Quando a noite caiu, as chamas devoraram a agulha da torre principal da emblemática catedral, que desabou diante dos olhos atônitos dos presentes e daqueles que acompanhavam as imagens pelas redes sociais e meios de comunicação, manifestando o temor mundial pela possível perda de uma catedral tão querida. A palavra “patrimônio da humanidade” passou a fazer total sentido. Enquanto isso, equipes de emergência tentavam salvar as valiosas obras de arte em seu interior. O vice-prefeito de Paris, Emmanuel Grégoire, afirmou que a catedral havia sofrido “um dano colosal”. O fogo consumiu não apenas a agulha da torre principal, mas também toda a estrutura do teto. Apesar da impotência dos bombeiros que não conseguiram alcançar o epicentro das chamas, após horas de combate, conseguiram salvar a estrutura principal da catedral.
O secretário de Estado francês do Interior, Laurent Nuñez, anunciou que o perigo do fogo estava “descartado”, mas ainda havia dúvidas sobre a resistência da estrutura após o incêndio. “Um incêndio dessa magnitude tem um impacto nas estruturas, precisamos garantir que continuam estáveis para permitir que nossos homens entrem novamente no interior. Eles fizeram isso, com grande valentia, nas torres, para combater o fogo de dentro e evitar que a catedral desabasse”, explicou.
Na manhã de terça-feira, os bombeiros anunciaram que o incêndio estava totalmente “apagado”.
Um dos primeiros mandatários a se pronunciar naquele dia foi Donald Trump, através de seu Twitter: “É horrível ver o incêndio massivo na catedral Notre Dame, em Paris”. No mesmo tweet, sugeriu o uso de aviões hidrantes e ação rápida. Pela mesma rede social, a Direção Geral de Segurança Civil e Gestão de Crises da França explicou por que não seria possível usar esse tipo de aeronave, “tecnicamente inadequada para combater esse tipo de fogo”. “A queda de ar nesse tipo de edifício poderia, de fato, causar o colapso de toda a estrutura”, disseram as autoridades.
A então chanceler alemã, Angela Merkel, também se manifestou sobre o incêndio: “Essas imagens horríveis da Notre Dame em chamas são dolorosas. Notre Dame é um símbolo da França e da nossa cultura europeia. Nossos pensamentos estão com os amigos franceses”, escreveu o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert.
Símbolo de Paris
Notre Dame (em português, “Nossa Senhora”) é uma das catedrais góticas mais antigas do mundo. De culto católico e sede da Arquidiocese de Paris, foi dedicada à Virgem Maria, sob a invocação de Nossa Senhora de Paris. Suas obras começaram em 1163 e foram concluídas em 1345, quase dois séculos depois. Ao longo dos séculos, foi restaurada várias vezes, sendo a mais importante a realizada pelo famoso arquiteto Eugène Viollet-le-Duc, em meados do século XIX, após os danos causados pela Revolução Francesa (1789-1799), quando foi desacralizada, saqueada e grande parte de sua imaginação religiosa foi profanada. Foi recuperada como igreja católica por Napoleão para sua coroação, em 2 de dezembro de 1804, e mais tarde, com a novela Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo, retomou seu prestígio, criando o clima propício para sua restauração e evitando a temida demolição.
Suas duas torres têm 69 metros de altura e é possível chegar até elas a pé, por 387 degraus íngremes. Não há elevador. Quem faz o esforço é premiado com vistas incríveis da cidade, do campanário e suas fabulosas gárgulas e quimeras, criaturas fantásticas que não têm apenas uma função decorativa. As primeiras têm uma função prática: adornam as calhas que levam a água para o vazio, evitando que a água corra sobre os telhados e muros e previna a degradação. Já as quimeras, que não existiam na Idade Média, fazem parte do universo fantástico do arquiteto Viollet-le-Duc.
“Após a semana inaugural, de 8 a 15 de dezembro, dedicada a celebrar a reabertura e homenagear aqueles que salvaram e reconstruíram a catedral, Notre-Dame retomará seu ritmo diário a partir de 16 de dezembro”, informa seu site, que já está recebendo os visitantes.
