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O aumento das tarifas de internet em Cuba, implementado pela estatal ETECSA no fim de maio, provocou uma onda de protestos estudantis que se espalha por universidades do país. Apesar da forte rejeição popular, o presidente cubano Miguel Díaz-Canel defendeu a medida, afirmando que ela é necessária para evitar o “colapso tecnológico” do sistema de telecomunicações da ilha.
Durante seu podcast “Desde la presidencia”, Díaz-Canel reconheceu que a decisão é impopular, mas insistiu que sem a arrecadação extra o país estaria acelerando o “desplome iminente” da rede de telecomunicações. Segundo ele, “renunciar a implementar as medidas seria renunciar a receitas fundamentais”.
O novo plano anunciado pela ETECSA oferece um pacote mensal básico de 6 GB por 360 pesos cubanos (cerca de 3 dólares na cotação oficial), valor que representa uma quantia significativa diante do salário mínimo vigente. Em muitos casos, recargas adicionais precisam ser feitas em moeda estrangeira, inacessível para grande parte da população.
A presidente da ETECSA, Tania Velázquez, justificou o reajuste com base no estado crítico da infraestrutura: há cerca de cem radiobases fora de operação, mais de 2 mil sem baterias para resistir aos frequentes apagões, além de 25 mil aparelhos telefônicos danificados que a empresa não consegue substituir. Segundo Velázquez, “muitos equipamentos estão em risco iminente de falha grave, o que pode comprometer ou até bloquear completamente o acesso aos serviços”.
Ela também destacou a queda de 77% nas receitas em divisas entre 2018 e 2024, em parte devido ao mercado informal, que oferece recargas internacionais a preços mais competitivos do que os praticados oficialmente.
A reação estudantil ganhou força a partir da Universidade de Havana, onde faculdades como Psicologia, Filosofia, Sociologia, História e Matemática anunciaram boicotes às aulas e exigiram a renúncia de lideranças da Federação Estudantil Universitária (FEU), acusadas de alinhamento com o regime. Em vídeos divulgados nas redes sociais, alunos denunciam a exclusão digital da população e classificam o aumento como um problema social e político. “Em um país onde as pessoas ganham menos de 15 dólares por mês, isso não é apenas uma questão comercial”, disse uma estudante durante assembleia.
A greve estudantil se espalhou por outras instituições, como a Universidade de Ciências Médicas “Manuel Fajardo”, a Universidade de Matanzas e a Universidade “Marta Abreu” de Villa Clara. Os estudantes exigem que a ETECSA apresente soluções concretas e se disponha ao diálogo com a comunidade acadêmica.
A fundadora da plataforma Cuba Decide, Rosa María Payá, celebrou a mobilização estudantil, chamando o movimento de “orgulho nacional” e acusando o governo cubano de corrupção, chantagem e exploração por meio de empresas estatais monopolistas.
As manifestações também receberam apoio do Movimento Cubano de Militares Objetores de Consciência (MOC). Em comunicado, o general Rafael del Pino exortou membros das Forças Armadas e do Ministério do Interior a não reprimirem os estudantes. “A pátria os contempla com orgulho”, declarou, pedindo que os militares se recusem a servir aos “interesses privados da máfia” que domina o país por meio de empresas como a ETECSA e o conglomerado GAESA.
Enquanto o governo reforça a necessidade das novas tarifas para evitar um colapso, a crise da conectividade se torna símbolo de um descontentamento mais amplo, que agora ganha voz nas salas de aula e nos corredores das universidades cubanas.
*Com informações de agências de notícias internacionais
