O egocentrismo infantil é uma fase no desenvolvimento de meninos e meninas na qual eles não conseguem estabelecer claramente os limites do seu eu.
Essa estrutura mental é precisamente o que impede a criança de adotar o ponto de vista de outra pessoa. Isso ocorre porque, sob a influência desse egocentrismo, ela não consegue conceber que o seu ponto de vista não seja apenas um dos muitos possíveis.
Segundo Freud, o egocentrismo não é inato no sentido biológico ou genético, mas sim uma característica fundamental do desenvolvimento psicológico precoce dos seres humanos. De acordo com sua teoria psicanalítica, o egocentrismo se desenvolve como parte do processo de formação do eu (ego) na infância.
Freud propôs que durante as primeiras etapas do desenvolvimento psicossexual, a criança está focada em satisfazer suas próprias necessidades e desejos sem considerar os dos outros. Este período de egocentrismo precoce é fundamental para o desenvolvimento do eu e é necessário para que a criança adquira um senso de si mesma e de sua relação com o mundo.
À medida que a criança cresce e se desenvolve, o egocentrismo inicial deve ceder diante da realidade externa e das demandas sociais. Em um desenvolvimento psicológico esperado, a criança deve ser capaz de reconhecer e considerar as necessidades e desejos dos outros, desenvolvendo assim a capacidade de empatia e consideração interpessoal.
Muitas vezes nos deparamos com a situação de crianças que batem à porta e, ao serem questionadas de dentro “quem é?”, respondem “eu”. Quem mais poderia ser senão o próprio à vista de seus próprios olhos? Parece que se perguntam, mas nem mesmo o fazem, dando como certo um sentido unidirecional, o de sua própria perspectiva.
Para Jean Piaget, o egocentrismo é um conceito fundamental em sua teoria do desenvolvimento cognitivo. Este pesquisador afirmou que o egocentrismo é uma característica central da fase pré-operacional do desenvolvimento cognitivo. Durante esta fase, as crianças tendem a ver o mundo exclusivamente do seu próprio ponto de vista e têm dificuldade em compreender que outras pessoas possam ter crenças, desejos ou perspectivas diferentes das suas.
Um exemplo clássico de egocentrismo na teoria de Piaget é o “teste da montanha”, no qual uma maquete de uma montanha é mostrada a uma criança de um ângulo e então é pedido a ela que descreva o que alguém veria de outro ângulo. As crianças na fase pré-operacional tendem a descrever a montanha do seu próprio ponto de vista, sem considerar que outros podem vê-la de maneira diferente.
Piaget descreve que o egocentrismo diminui gradualmente à medida que as crianças avançam para a próxima fase do desenvolvimento cognitivo, a fase das operações concretas, onde começam a entender a perspectiva dos outros de forma mais completa.
A capacidade humana de adquirir a perspectiva do outro começa apenas por volta dos 4 anos de idade. Esta capacidade é ativada por uma estimulação eficaz proveniente do ambiente e de fatores culturais que influenciam a natureza humana.
Andrew Whiten, da Universidade de St Andrews, estudou, com base em uma série de experimentos, a diferença entre a mente do chimpanzé e a mente humana, identificando a chave na humana: a leitura do pensamento. Ele descobriu que até os quatro anos de idade, as crianças são incapazes de atribuir outro pensamento que não o seu próprio a outro ser humano, através do método de “atribuição de falsas crenças”, que uma criança supera aos 5 anos e um chimpanzé nunca consegue.
A atribuição de falsas crenças se refere especificamente à capacidade de entender que uma pessoa pode ter uma crença que difere da realidade objetiva ou da própria crença do indivíduo. Esta habilidade geralmente é avaliada por meio de experimentos como o clássico “Teste de Sally-Anne”.
A aquisição dessa habilidade geralmente ocorre por volta dos 4 anos de idade e é considerada um marco importante no desenvolvimento e abandono da fase egocêntrica e no início da complexidade na compreensão social. A capacidade de atribuir falsas crenças é fundamental para entender e prever o comportamento dos outros em situações sociais complexas.
É muito importante ter em mente que o egocentrismo é parte do desenvolvimento de bebês e crianças pequenas e não um capricho.
Muitas vezes, comportamentos de crianças são julgados como má educação ou falta de consideração pelos sentimentos dos outros, como quando não querem emprestar um brinquedo. Não há intenção de egoísmo ou malícia; simplesmente ainda não conseguem se colocar no lugar do outro.
