Injeções para Perda de Peso Podem Prevenir Até 14 Tipos de Câncer, Revela Estudo

Injeções revolucionárias para perda de peso, como Mounjaro e Ozempic, que já transformaram a luta contra a obesidade, podem oferecer um benefício ainda mais surpreendente: a capacidade de afastar até 14 tipos de câncer. É o que sugerem especialistas líderes mundiais, em uma pesquisa que aponta para um “efeito preventivo” desses medicamentos.

Essas injeções, que promovem a perda de peso, já haviam sido associadas a outros benefícios à saúde, como a redução do risco de ataques cardíacos, derrames e doenças renais. Agora, a nova pesquisa mostra que podem diminuir o risco de uma série de cânceres relacionados ao peso, incluindo tipos de difícil diagnóstico, como os de pâncreas, rim e ovário.

O estudo, divulgado pelo portal britânico Daily Mail, descobriu que as injeções foram mais eficazes na redução do risco de câncer de cólon e retal especificamente. Ambos os tipos têm visto um aumento preocupante de casos em pessoas com menos de 50 anos nos últimos anos, o que tem intrigado médicos em todo o mundo.

Cientistas americanos, responsáveis pelo ensaio, afirmaram que as descobertas mostram que os medicamentos têm um “efeito preventivo” em pessoas com maior risco dessas 14 doenças. No entanto, eles alertaram que mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados. Os pesquisadores também não especularam por que os medicamentos, que pertencem à classe de agonistas do GLP-1, poderiam diminuir as chances de um paciente desenvolver câncer.

Um Vazio Preenchido na Prevenção do Câncer

Lucas Mavromatis, especialista em obesidade da NYU Grossman School of Medicine em Nova York e autor principal do estudo, destacou a importância da pesquisa. “Embora a obesidade seja agora reconhecida como uma causa cada vez mais importante de câncer nos Estados Unidos e em todo o mundo, nenhum medicamento provou diminuir o risco de câncer associado à obesidade”, disse ele.

Mavromatis acrescentou: “Nosso estudo começa a preencher essa lacuna, avaliando os agonistas do receptor de GLP-1, um medicamento relativamente novo, mas amplamente prescrito, que trata diabetes, obesidade e condições relacionadas. Nossos resultados sugerem que eles podem modestamente reduzir a chance de desenvolver certos cânceres — especialmente cânceres de cólon e reto — e reduzir as taxas de morte por todas as causas. Esses dados são tranquilizadores, mas mais estudos são necessários para provar a causalidade.”

No estudo, os pesquisadores analisaram dados de mais de 170 mil pacientes obesos com diabetes, com idade média de 57 anos. Ao longo de um acompanhamento de uma década, eles compararam o risco de câncer entre pacientes usando agonistas do GLP-1 e aqueles usando inibidores de DDP-4, outro medicamento para diabetes.

Os 14 tipos de câncer avaliados incluíram esôfago, cólon, reto, estômago, fígado, vesícula biliar, pâncreas, rim e mama pós-menopausa. Ovário, endométrio e tireoide, além de mieloma múltiplo e meningiomas, foram os outros tipos.

Eles descobriram que aqueles que usavam GLP-1s tinham um risco 7% menor de desenvolver um câncer relacionado à obesidade do que os pacientes que usavam inibidores de DDP-4. Quando outros benefícios à saúde foram considerados, esses pacientes também tiveram 8% menos probabilidade de morrer ao longo do período de 10 anos. No geral, a maior redução foi observada para cânceres de cólon (16%) e retal (28%).

Esses benefícios foram maiores entre as mulheres em comparação com os homens, com mulheres obesas em GLP-1s registrando um risco 8% menor de câncer relacionado à obesidade e um risco 20% menor de todas as causas de morte em comparação com mulheres tratadas com inibidores de DDP-4.

Apresentação e Próximos Passos

As descobertas completas serão apresentadas na próxima semana na conferência da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) em Chicago.

A Dra. Robin Zon, presidente da ASCO, comentou: “Este estudo levanta uma hipótese intrigante: que os cada vez mais populares medicamentos GLP-1 usados para tratar diabetes e obesidade podem oferecer algum benefício na redução do risco de desenvolver câncer. Vejo muitos pacientes com obesidade, e dada a clara ligação entre câncer e obesidade, definir o papel clínico dos medicamentos GLP-1 na prevenção do câncer é importante. Embora este estudo não estabeleça causalidade, ele sugere que esses medicamentos podem ter um efeito preventivo. Pesquisas futuras são necessárias para validar essas descobertas, inclusive em pacientes que não têm diabetes.”

As injeções, que foram originalmente desenvolvidas para o tratamento do diabetes, se tornaram nos últimos anos um dos medicamentos para perda de peso mais procurados no mundo, com diversas celebridades, incluindo Elon Musk e Boris Johnson, revelando que os utilizam para emagrecer.

Estima-se que pelo menos meio milhão de pacientes do NHS (serviço de saúde britânico) e cerca de 15 milhões nos EUA estejam usando injeções para perda de peso, que podem ajudar os pacientes a perder até 20% do peso corporal em apenas alguns meses. A obesidade em si aumenta as chances de uma pessoa sofrer de condições de saúde graves que podem danificar o coração, como pressão alta, além de diversos tipos de câncer.

Aproximadamente um a cada três brasileiros, 31%, vive com obesidade e essa porcentagem tende a crescer nos próximos cinco anos. No país cerca da metade da população adulta, entre 40% e 50%, não pratica atividade física na frequência e intensidade recomendadas.

Os dados são do Atlas Mundial da Obesidade 2025 (World Obesity Atlas 2024), da Federação Mundial da Obesidade (World Obesity Federation – WOF), lançado nessa segunda-feira (3).

O relatório mostra que, no Brasil, 68% da população tem excesso de peso e, dessas, 31% tem obesidade e 37% tem sobrepeso. O Atlas traz ainda uma projeção de que o número de homens com obesidade até 2030 pode aumentar em 33,4%. Entre as mulheres, essa porcentagem pode crescer 46,2%.