Entre nos nossos canais do Telegram e WhatsApp para notícias em primeira mão. Telegram: [link do Telegram]
WhatsApp: [link do WhatsApp]
O cirurgião francês Joël Le Scouarnec não vai recorrer da sentença após ser condenado, na quarta-feira, à pena máxima de 20 anos de prisão por abusar sexualmente de centenas de pacientes, a maioria crianças, segundo informou seu advogado.
“O Sr. Le Scouarnec nunca teve a intenção de recorrer”, declarou Maxime Tessier à imprensa.
O julgamento, iniciado em fevereiro, chocou a França e ocorreu meses depois de outro caso de grande repercussão, o das violações em série contra Gisèle Pelicot, que resultou na condenação de 51 homens.
“Foram considerados fatos especialmente graves, pelo número de vítimas, pela pouca idade delas e pelo comportamento compulsivo do réu”, afirmou a presidente do tribunal de Vannes, Aude Buresi, ao anunciar o veredicto.
Após a decisão, o advogado do ex-cirurgião reforçou que seu cliente “nunca teve intenção” de apelar da sentença.
A promotoria havia solicitado 20 anos de prisão para esse “diabo de jaleco branco”, além de outras medidas menos comuns, como o encaminhamento a um centro especializado para tratamento e monitoramento após o cumprimento da pena.
O tribunal, no entanto, optou por uma pena considerada mais branda, levando em conta a “vontade de reparação” do réu e sua idade. Aos 74 anos, Le Scouarnec poderá solicitar liberdade condicional após cumprir dois terços da pena.
A Justiça também impôs um acompanhamento sociojudicial por 15 anos, incluindo tratamento obrigatório e a proibição definitiva de exercer qualquer profissão médica ou atividade que envolva contato com menores.
Em suas alegações finais, a defesa pediu ao tribunal que levasse em conta “elementos favoráveis ao réu”, como a confissão, embora as vítimas exigissem uma pena exemplar.
“Não peço clemência ao tribunal. Peço apenas o direito de ser uma pessoa melhor e recuperar parte da humanidade que tanto me faltou”, declarou o acusado em sua fala final, na segunda-feira.
Nova investigação
Durante o julgamento, Joël Le Scouarnec admitiu sua culpa em todos os crimes cometidos entre 1989 e 2014, dentro de hospitais. Dentre as vítimas, 256 tinham menos de 15 anos.
Ele foi julgado por 111 estupros e 189 agressões sexuais. No entanto, durante o processo, também confessou abusos contra sua neta e afirmou se sentir responsável pelo suicídio de duas vítimas.
Desde 2020, o ex-cirurgião já cumpre uma pena de 15 anos por estupros e agressões sexuais contra duas sobrinhas, uma paciente dos anos 1990 e uma vizinha de 6 anos em Jonzac, em 2017.
A partir da denúncia dessa última vítima, investigadores encontraram em sua casa “cadernos” nos quais ele detalhava os abusos, além de milhares de imagens de pornografia infantil e dezenas de bonecas.
Em 20 de março, o Ministério Público francês anunciou a abertura de uma nova investigação para apurar o envolvimento do ex-cirurgião com “vítimas não identificadas ou recém-declaradas”.
Periculosidade elevada
Le Scouarnec nasceu em Paris, filho de um marceneiro e de uma zeladora. Era o mais velho de três irmãos, excelente aluno e solitário, e desde jovem sonhava em ser cirurgião – objetivo que alcançou nos anos 1980.
Casou-se e teve três filhos entre 1980 e 1987. Sob a aparência de uma família estruturada, a relação conjugal se deteriorava conforme aumentavam os comportamentos pedófilos do médico.
“Esse homem é um enigma”, declarou ao tribunal o psiquiatra Jean-Jacques Dumond, um dos especialistas que o avaliaram, e que não conseguiu apontar a origem de sua pedofilia. A psiquiatra Isabelle Alamone completou: “Sua periculosidade é muito elevada.”
A Justiça já o havia identificado em 2004, quando o uso de seu cartão bancário para acessar sites de pornografia infantil foi rastreado. Ele foi condenado, em 2005, a quatro meses de prisão com pena suspensa pelo tribunal de Vannes.
Mesmo com essa condenação por posse de pornografia infantil, Le Scouarnec continuou atuando como cirurgião em diversos hospitais até se aposentar, em 2017.
(Com informações da AFP)
