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Um jovem de 18 anos foi preso na França sob suspeita de planejar um ataque contra mulheres, no que se tornou o primeiro caso no país a ser tratado pela Justiça antiterrorismo com base na ligação exclusiva com o movimento masculinista conhecido como “incel”.
O acusado, identificado como Timothy G., nasceu em novembro de 2006 na região leste da França e foi detido na última sexta-feira (28) nas proximidades de um colégio em Saint-Étienne. Segundo fontes próximas à investigação ouvidas pela agência AFP, ele carregava dois facas na mochila e declarou abertamente sua identificação com a ideologia “incel” — sigla em inglês para “involuntariamente celibatários”, grupo virtual que cultiva ódio contra mulheres e já foi associado a atentados letais em outros países.
A Procuradoria Nacional Antiterrorista da França (Pnat) determinou a prisão preventiva do jovem por “associação terrorista com objetivo de cometer um ou mais crimes contra pessoas”.
Durante audiência com o juiz, Timothy se apresentou com uma camiseta azul, aparência tímida e juvenil, rosto sem barba e corpo magro. Sua advogada, Maria Snitsar, afirmou: “Vi um adolescente que sofre, não um combatente que se prepara para a ação”.
A prisão despertou alertas nas autoridades e na sociedade francesa sobre o avanço da radicalização de jovens por meio de comunidades virtuais misóginas. Embora o perfil “incel” fosse até então marginal em investigações do país, este é o primeiro processo formal da Justiça antiterrorismo vinculado diretamente ao movimento.
O fenômeno “incel” ganhou notoriedade internacional nos últimos anos. Seus integrantes acreditam que a rejeição por parte das mulheres é a causa de sua frustração sexual, o que alimenta um ressentimento profundo contra o gênero feminino e contra o feminismo, responsabilizado por seus fracassos pessoais e afetivos.
Na França, a Justiça já havia investigado dois casos similares envolvendo jovens próximos à extrema direita. Em ambos, os acusados exaltavam autores de massacres, como Anders Breivik — responsável pela morte de 77 pessoas na Noruega, em 2011 — e Dylan Klebold, um dos autores do massacre na escola de Columbine, nos EUA, em 1999.
A influência das comunidades “incel” e de outros fóruns virtuais misóginos sobre adolescentes tem sido tema de crescente debate social e midiático. Produções como a série “Adolescência”, da Netflix, contribuíram para expor a toxicidade e os discursos de ódio disseminados entre jovens nas redes.
Entre as figuras mais influentes nesse universo está Andrew Tate, influenciador masculinista com cerca de 11 milhões de seguidores na rede social X. Tate já foi acusado de estupro e tornou-se referência para adolescentes que consomem conteúdos de viés misógino e de extrema direita. Sua popularidade tem sido apontada como um fator que contribui para a normalização do discurso de ódio e a radicalização de jovens vulneráveis.
