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Quando telescópios do hemisfério norte captaram uma fraca mancha azulada no horizonte, os astrônomos perceberam que estavam diante de algo extraordinário. Era o 3I/ATLAS, o cometa vindo dos confins do espaço interestelar em direção ao nosso Sistema Solar.
Recentemente, ele voltou a ser visível após passar atrás do Sol. Sua reaparência marcou um novo capítulo em uma história que une precisão científica e fascínio: este viajante de outro sistema estelar não apenas sobreviveu ao encontro com nossa estrela, mas também parece desafiar as regras conhecidas da física.
Primeira fotografia de 3I/Atlas após sua aproximação ao Sol (Discovery Telescope)
Primeiras observações e registro histórico
Qicheng Zhang, pesquisador do Observatório Lowell, no Arizona, foi o primeiro a fotografar o cometa usando o poderoso telescópio Discovery. Ele também conseguiu torná-lo visível com um pequeno instrumento pessoal, confirmando que o visitante pode ser observado até por amadores.
“Tudo o que você precisa é de um céu limpo e um horizonte leste muito baixo. Não será muito impressionante, é só uma mancha, mas ela ficará cada vez mais visível nos próximos dias”, explicou Zhang.

O cometa 3I/ATLAS tornou-se visível novamente da Terra, após passar atrás do Sol e surpreender os astrônomos com seu brilho azul (Telescópio Atlas).
Esse registro óptico representou o primeiro acompanhamento do 3I/ATLAS após seu passo por trás do Sol, no dia 31 de outubro, justamente na noite de Halloween.
O cometa não é comum: é apenas o terceiro objeto interestelar identificado na história, depois do 1I/‘Oumuamua, em 2017, e do 2I/Borisov, em 2019. Seu nome vem do telescópio que o descobriu em 1º de julho, no Chile: Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (ATLAS). Desde então, seu comportamento tem intrigado os astrônomos, por sua velocidade, brilho e trajetória quase perfeitamente reta.
Um viajante que desafia as órbitas
De acordo com cálculos da NASA, o 3I/ATLAS viaja a mais de 210 mil km/h (60 km/s), em uma órbita hiperbólica que o faz atravessar o Sistema Solar sem ser capturado pela gravidade do Sol. Ou seja, ele chegou de outro sistema estelar e em breve retornará ao espaço profundo, sem jamais voltar.
O periélio – ponto mais próximo do Sol – ocorreu entre 29 e 30 de outubro de 2025, a 1,36 unidade astronômica, cerca de 203 milhões de quilômetros, dentro da órbita de Marte. Durante esse período crítico, o cometa ficou oculto pelo Sol, mas os astrônomos acompanharam seu rastro por telescópios espaciais e cálculos orbitais. Assim que reapareceu, o telescópio Lowell Discovery captou sua tênue luz azulada, mais intensa que a do Sol, um fenômeno que intrigou a comunidade científica.
O cometa possui um núcleo de cerca de 20 km de diâmetro e massa superior a 33 bilhões de toneladas, sendo o maior objeto interestelar observado até hoje.

O visitante interestelar está viajando a mais de 210.000 quilômetros por hora, em uma trajetória que o levará para fora do Sistema Solar (MICIU).
Passagem por Marte e aproximação da Terra
Em 3 de outubro, o 3I/ATLAS passou a apenas 28 milhões de km de Marte. Em dezembro, atingirá seu ponto mais próximo da Terra, a 270 milhões de km, e em março de 2026 se aproximará de Júpiter antes de desaparecer no espaço interestelar. A NASA confirma que não há risco de colisão, mas o cometa oferece uma oportunidade única de estudar um fragmento de outro sistema solar em tempo real.
Astrônomos estimam que ele tenha se formado há cerca de 10 bilhões de anos, muito antes do nascimento do Sol, nas regiões mais antigas da Via Láctea. Sua composição de gelo, poeira e gases intactos faz dele uma verdadeira cápsula do tempo cósmica, preservando informações sobre os primeiros processos químicos da galáxia.
O mistério do azul
Os primeiros estudos detalhados revelaram que o cometa se tornou mais brilhante do que o esperado, e seu tom azul mais intenso que o Sol surpreendeu os cientistas. Segundo o professor Avi Loeb, da Universidade de Harvard:
“Além disso, a cor do objeto é azul, mais azul que o Sol, e isso é muito surpreendente porque normalmente, quando há poeira ao redor de um objeto, ele deveria se tornar avermelhado.”

O Telescópio Espacial Hubble capturou esta imagem do cometa interestelar 3I/ATLAS em 21 de julho de 2025, quando ele estava a 445 milhões de quilômetros da Terra (UCLA).
A detecção de uma “anti-cauda” – jato de gás e poeira apontando para o Sol, e não para longe dele – também chamou atenção. Loeb sugeriu de forma provocativa que, se fosse uma nave alienígena desacelerando, a anti-cauda poderia ser um sinal de manobra de frenagem. Embora essa hipótese divida a comunidade científica, ninguém questiona que o 3I/ATLAS possui propriedades químicas inéditas: mistura rara de dióxido de carbono, água, cianeto e uma liga de níquel nunca antes detectada na natureza, com excesso de níquel e quase nenhum ferro.

O cometa 3I/ATLAS está viajando pelo nosso sistema solar à velocidade impressionante de 209.000 quilômetros por hora, a maior velocidade já registrada para um objeto de origem interestelar (DAVID JEWITT – HUBBLE NASA/ESA).
Um registro histórico e científico
O cometa passou perto de Marte com precisão orbital impressionante e sua trajetória foi considerada “extraordinária” pelo NOIRLab. Por isso, a Rede Internacional de Alerta de Asteroides (IAWN) incluiu o 3I/ATLAS em sua lista de objetos prioritários.
O periélio, em 29 de outubro, ocorreu a 210 milhões de km do Sol, ou 1,4 vezes a distância entre Sol e Terra, no lado oposto ao nosso planeta.

O cometa exibe uma cor mais azulada que o Sol, um fenômeno que intriga os cientistas devido à sua temperatura anômala. (James Webb/NASA)
Laura Nicole Driessen, pesquisadora em radioastronomia na Universidade de Sydney, explica:
“O cometa 3I/ATLAS é possivelmente o objeto mais antigo que já vimos em nosso Sistema Solar. Nosso Sistema Solar tem 4,6 bilhões de anos, enquanto o 3I/ATLAS pode ter mais de 7 bilhões de anos. Ele viajou muito rápido pelo universo apenas para passar alguns meses em nosso Sistema Solar.”
O cometa também possui mais dióxido de carbono em suas camadas externas do que a maioria dos cometas do Sistema Solar, além de proporção elevada de níquel.
“Essas assinaturas químicas oferecem uma perspectiva única da composição da nuvem de gás que formou o sistema solar de onde veio o cometa. Isso é um exemplo de por que devemos esgotar todas as possibilidades antes de pensar em vida extraterrestre”, acrescenta Driessen.
Com um núcleo de cerca de 20 quilômetros de diâmetro, o cometa interestelar 3I/ATLAS é o maior objeto do seu tipo já observado. (NASA)
Observação e expectativa futura
Enquanto se afasta do Sol, o 3I/ATLAS volta a ser visível da Terra. Em dezembro, quando se aproximar ao máximo do nosso planeta, telescópios de todo o mundo o acompanharão. A NASA disponibilizou a ferramenta interativa Eyes on the Solar System, que permite seguir sua trajetória em tempo real, enquanto o site The Sky Live atualiza mapas com sua posição exata.
Astrônomos aguardam também imagens da câmera HiRISE do orbitador de Marte, que devem revelar detalhes sobre textura, brilho e origem da misteriosa luz azul do cometa.
Por enquanto, o 3I/ATLAS segue sua viagem impossível, lembrando que o universo ainda guarda segredos capazes de desafiar a lógica humana e reacender o fascínio pela observação do céu.