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A América do Sul está se tornando mais quente, seca e suscetível a incêndios, conforme revela um novo estudo publicado na revista “Nature Climate Change”. O aumento dessas condições está diretamente relacionado às mudanças climáticas, que estão intensificando os períodos de seca e elevando as temperaturas na região, criando um ambiente propício para incêndios florestais.
Pesquisadores analisaram dados de temperatura, precipitação e ocorrência de incêndios nos últimos 40 anos, encontrando evidências de que esses eventos se tornaram mais frequentes e graves, principalmente no norte da Amazônia, na região do Gran Chaco (que inclui o Pantanal) e no Lago Maracaibo, na Venezuela.
Entre 1971 e 2000, essas áreas registravam menos de 20 dias por ano com condições quentes, secas e inflamáveis. Nas últimas décadas, esse número saltou para até 70 dias anuais, triplicando o risco de incêndios. Raul Cordero, autor do estudo e professor da Universidade de Groningen, afirmou que as mudanças climáticas são o principal fator que explica essa tendência, destacando o aumento extraordinário no risco de incêndios na América do Sul.
Comparando os períodos entre 1971-2000 e 2001-2022, houve um aumento de cerca de 60 dias quentes por ano na Amazônia e na Bacia de Maracaibo. No Pantanal, embora o aumento de dias quentes não tenha sido tão expressivo, a região apresentou um dos maiores crescimentos no número de dias secos. As precipitações anuais caíram cerca de 100 mm no Pantanal e 200 mm em Maracaibo, embora ainda ultrapassem os 1000 mm por ano. No entanto, as condições secas aumentaram em mais de 50 dias por ano nessas áreas, impulsionadas pelas mudanças climáticas. Segundo Cordero, a queda nas precipitações é o principal fator que explica o aumento do risco de incêndios no Pantanal e no Gran Chaco.
Atualmente, o Brasil enfrenta a maior seca de sua história, com cerca de um terço do território em situação de seca intensa. No Pantanal, as mudanças climáticas aumentaram em 40% o número de incêndios florestais em junho, e a crise climática multiplicou em até 20 vezes a chance de condições que intensificaram os incêndios na Amazônia Ocidental entre março de 2023 e fevereiro de 2024. Desde agosto, todos os 62 municípios do Amazonas estão em emergência ambiental devido à seca e ao aumento dos focos de incêndio, afetando 330 mil pessoas e isolando comunidades.
Cordero ressaltou que essa situação está de acordo com as previsões do estudo, que aponta temporadas de incêndios cada vez mais intensas. O estudo também destaca a influência do El Niño-Oscilação Sul (ENSO) nas condições climáticas extremas da região. Por exemplo, a seca intensa no Gran Chaco coincidiu com a La Niña de 2020 a 2022, enquanto a Amazônia passou por um período seco durante o El Niño de 2015. O risco de incêndios aumenta no norte da Amazônia com o El Niño, enquanto a La Niña eleva esse risco na parte central da América do Sul.
Ana Paula Cunha, pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), destacou que o aumento das temperaturas do Atlântico Tropical Norte, também ligado às mudanças climáticas, agravou a atual seca de 2023-2024, alterando os padrões de chuva no Norte do Brasil. Segundo ela, o aquecimento global aumenta a temperatura dos oceanos e altera os padrões de chuva, enquanto a remoção da vegetação agrava a situação, prolongando a estação seca e elevando as temperaturas.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirmou que há 60% de probabilidade de ocorrerem condições de La Niña até o final do ano, embora a estimativa tenha sido reduzida em comparação aos 70% previstos em junho. No entanto, a agência alertou que o aquecimento global de longo prazo continua sendo uma ameaça.
