A Embaixada da Ucrânia junto à Santa Sé respondeu neste domingo (10) ao Papa que durante a Segunda Guerra Mundial ninguém falou “de negociações de paz com Hitler”, depois que o pontífice afirmou em uma entrevista que no conflito da Ucrânia deveria haver “a coragem da bandeira branca” e “negociar”.
“É muito importante sermos coerentes! Quando falamos da Terceira Guerra Mundial, que temos agora, devemos aprender as lições da Segunda Guerra Mundial”, escreveu a legação diplomática em suas redes sociais. “Alguém falou seriamente naquela época sobre negociações de paz com Hitler e a bandeira branca para satisfazê-lo? Portanto, a lição é apenas uma: se queremos terminar a guerra, devemos fazer tudo o que pudermos para matar o dragão!”, conclui.
O papa Francisco defendeu a “negociação”, que é uma “palavra corajosa”, para alcançar o fim do conflito, em uma entrevista à Radio Televisão Suíça, cujos trechos foram publicados no último sábado.
“Acho que é mais forte quem vê a situação, quem pensa no povo, quem tem a coragem da bandeira branca, de negociar. E hoje é possível negociar com a ajuda das potências internacionais. A palavra negociar é uma palavra corajosa”, disse o pontífice.
“Quando você vê que está derrotado, que as coisas não vão bem, deve ter a coragem de negociar”, acrescentou o pontífice durante a entrevista que será transmitida na íntegra em 20 de março.
“Nossa bandeira é amarela e azul. Esta é a bandeira pela qual vivemos, morreremos e triunfaremos. Nunca levantaremos outras bandeiras”, replicou o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, em uma mensagem na rede social X.
Após a divulgação do teaser, o Vaticano esclareceu que o Papa não estava falando sobre rendição, mas sim sobre negociação, conforme declarou o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, no site Vatican News. “O papa usa o termo bandeira branca e responde à imagem proposta pelo entrevistador, para indicar com ela o cessar das hostilidades, a trégua alcançada com a coragem da negociação. Em outro momento da entrevista, falando de outra situação de conflito, mas referindo-se a qualquer situação de guerra, o papa afirma claramente: ‘a negociação nunca é rendição’”, disse.
Segundo Bruni, “o desejo do Papa continua sendo o que ele tem repetido nos últimos anos (…): ‘Enquanto renovo meu mais profundo afeto pelo atormentado povo ucraniano e rezo por todos, especialmente pelas inúmeras vítimas inocentes, imploro que encontremos aquele vestígio de humanidade que nos permita criar as condições para uma solução diplomática em busca de uma paz justa e duradoura’”.
Em sua entrevista ao meio suíço, o Papa também respondeu a uma pergunta sobre se havia se oferecido para negociar nos conflitos da Ucrânia e da Faixa de Gaza: “Estou aqui, e ponto final. Enviei uma carta aos judeus de Israel, para que reflitam sobre essa situação. Negociar nunca é se render. É a coragem de não levar o país ao suicídio. Os ucranianos, com a história que têm, coitados, os ucranianos na época de Stalin quanto sofreram….”.
E denunciou que por trás das guerras “está a indústria armamentista” e afirmou: “É um pecado coletivo”.
“Há um mês, o ecônomo me contou como estavam as coisas no Vaticano, sempre em déficit, sabe onde estão hoje os investimentos que geram mais receita? Na fábrica de armas. Ganha-se matando. Mais receitas: a fábrica de armas. Uma guerra terrível”, acrescentou.
Além disso, ele lembrou que quando viajou em 2014 para Redipuglia (Itália), chorou diante do monumento comemorativo da Primeira Guerra Mundial. “Depois, a mesma coisa aconteceu em Anzio, então todo dia 2 de novembro vou a um cemitério para celebrar. Da última vez, fui ao cemitério britânico e observei a idade dos rapazes. Já disse isso, mas vou repetir: ‘quando se comemorou o desembarque da Normandia, todos os líderes de governo celebraram essa data, mas ninguém mencionou que naquela praia ficaram até 20.000 rapazes’”, manifestou.
“A guerra é uma loucura, é uma loucura”, concluiu.
Com informações da AFP