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Os incêndios florestais na Bolívia seguem fora de controle, consumindo cerca de 4 milhões de hectares somente neste ano — uma área equivalente quase à totalidade da Suíça. Com o fogo se espalhando rapidamente, o governo intensifica os esforços dos bombeiros, que ainda são insuficientes, e anunciou a contratação de aviões-tanque e a chegada de mais brigadistas internacionais para auxiliar no combate às chamas.
Relatórios recentes apontam 74 focos de incêndio ativos apenas no departamento de Santa Cruz. Segundo o jornal El Deber, o Ministério da Defesa mobilizou quatro helicópteros e quatro aeronaves de pulverização, com capacidade máxima de 800 litros de água. Contudo, há necessidade urgente de aeronaves com maior capacidade de combate ao fogo.
A situação se agravou a níveis críticos, especialmente nas áreas rurais, onde o fogo já atingiu residências, e ao menos duas comunidades foram evacuadas por razões de saúde. O fumo denso cobre cidades inteiras, levando à suspensão de aulas presenciais em seis departamentos e à interrupção de voos devido à baixa visibilidade.
Na manhã desta quarta-feira (11), Santa Cruz de la Sierra registrou um Índice de Qualidade do Ar superior a 400, considerado “perigoso” para a saúde pela medição da IQAir. Outras capitais do país também enfrentam níveis de poluição classificados como “nocivos para grupos vulneráveis” e “muito prejudiciais”.
Após dois meses de incêndios na região da Chiquitania e uma semana de fumaça persistente na capital cruceña, o governo departamental declarou estado de desastre. No âmbito nacional, foi decretada emergência por incêndios e alerta sanitário devido à contaminação, facilitando a ajuda internacional. Brigadistas do Brasil e especialistas do Chile já chegaram ao país, com equipes da Venezuela e da França também previstas para se somarem aos esforços.
Na terça-feira, em La Paz, ocorreu uma marcha massiva exigindo ações concretas contra os incêndios, que se repetem anualmente. Os manifestantes carregavam cartazes com mensagens como “A natureza é nossa casa” e “A Bolívia não consegue respirar”, pedindo a revogação de leis que permitem desmatamento e queimadas para fins agrícolas.
A oposição, através da aliança Comunidad Ciudadana, elaborou em 2023 um projeto de lei para revogar as normas “incendiárias”, e espera-se que ele seja discutido nas próximas semanas.
Queimadas fora de controle
O Ministério do Meio Ambiente e Água informou que 60% da área queimada corresponde a pastagens, enquanto 40% afetam zonas florestais. A principal causa dos incêndios é a prática agrícola tradicional conhecida como “chaqueo”, que envolve a queima de terra antes do plantio, permitida pela legislação boliviana. No entanto, essas “queimadas controladas” frequentemente saem de controle devido aos ventos e à seca.
Apesar das proibições temporárias impostas pela Autoridade de Florestas e Terras (ABT), a fiscalização é falha. As multas são irrisórias e, muitas vezes, os responsáveis pelos incêndios não enfrentam consequências. Recentemente, um homem acusado de iniciar um incêndio florestal foi liberado sob a condição de plantar 100 mudas em uma área protegida. O promotor de Santa Cruz, Roger Mariaca, justificou a medida como uma forma de aliviar a superlotação carcerária.
Entre 2019 e 2023, a Bolívia perdeu uma média de 4,3 milhões de hectares por ano para incêndios, segundo dados apresentados pelo diretor do Instituto Nacional de Reforma Agrária, Eulogio Núñez, durante um debate organizado pela Vice-presidência do Estado e a Fundação Friedrich Ebert.