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Uma nova era no tratamento da cegueira está emergindo com a promessa de restaurar a visão central perdida devido à Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI). Pacientes envolvidos em um ensaio clínico europeu inovador recuperaram a capacidade de ler após receberem um implante ocular eletrônico combinado com óculos de realidade aumentada (RA).
A pesquisa, liderada por Mahi Muqit, professor associado do Instituto de Oftalmologia do University College London, é vista como um avanço histórico.
“Na história da visão artificial, isso representa uma nova era”, declarou Muqit. “Pacientes cegos podem efetivamente ter uma restauração significativa da visão central, algo que nunca foi feito antes.”
A Solução para a Atrofia Geográfica
A DMRI, uma condição ocular comum que danifica a mácula (parte responsável pela visão central), possui uma forma avançada e irreversível conhecida como Atrofia Geográfica, que afeta milhões de pessoas globalmente. Até então, os tratamentos focavam apenas em desacelerar a progressão da doença, sem recuperar a visão perdida.
O crédito pelo sucesso vai para o sistema microarray de retina fotovoltaica (PRIMA). O PRIMA consiste em um microchip sem fio ultrafino, com 378 células fotovoltaicas, que é implantado sob a mácula para substituir as funções das células cones e bastonetes danificadas pela doença.

Este microchip ultrafino é implantado no olho para restaurar a visão perdida. Corporação Científica / SWNS
Como Funciona o Sistema PRIMA
O procedimento cirúrgico para implantar o chip dura menos de duas horas. Após cerca de um mês de ajuste, o paciente recebe um kit que inclui:
- Óculos de Realidade Aumentada (RA): Contêm uma mini-câmera e um projetor infravermelho.
- Computador de Mão: Processa e traduz os dados visuais.
A mini-câmera captura o ambiente e envia os dados ao computador. Este, por sua vez, os traduz em um padrão de luz infravermelha, que é projetado no chip implantado. O chip então converte o padrão de luz em corrente elétrica, estimulando os neurônios saudáveis remanescentes da retina. O cérebro interpreta esses novos padrões como informações visuais.
Os pacientes passam meses trabalhando com esses sinais para reaprender a enxergar e, finalmente, a ler.
Resultados e Testemunhos
O estudo europeu envolveu 38 pacientes que haviam perdido a visão central em pelo menos um olho. Os resultados foram impressionantes: 84% dos participantes conseguiram ler letras, números e palavras, alcançando até cinco linhas em um gráfico de visão, graças ao PRIMA.
Sheila Irvine, uma das participantes do Moorfields Eye Hospital, em Londres, descreveu sua experiência antes da cirurgia: “Antes de receber o implante, era como ter dois discos pretos nos olhos, com o exterior distorcido.”
Após o procedimento, sua vida mudou: “Não houve dor durante a operação, mas você ainda está ciente do que está acontecendo. É uma nova forma de olhar através dos olhos, e foi muito emocionante quando comecei a ver uma letra.”
Irvine, uma ávida leitora, agora consegue ler pequenas escritas em rótulos e completar palavras-cruzadas. Outro paciente francês conseguiu usar a nova visão para se locomover pelo complexo sistema de metrô de Paris.
As descobertas, publicadas na segunda-feira no renomado New England Journal of Medicine, oferecem uma nova esperança para quem sofre de DMRI.
“Estes são pacientes idosos que não eram mais capazes de ler, escrever ou reconhecer rostos devido à visão perdida. Eles nem sequer conseguiam enxergar o gráfico de visão antes”, destacou Muqit, que também atua como consultor de vítreo-retiniana. “Eles passaram de estar na escuridão para começarem a usar sua visão novamente, e estudos mostraram que ler é uma das coisas que os pacientes com perda progressiva da visão mais sentem falta.”